Brasil na Opep: adesão poderia mudar jogo do petróleo, mas depende de grande aposta

23 de fevereiro de 2025

Enquanto alguns especialistas enxergavam a possibilidade adesão do Brasil à Organização dos Países Exportadores de Petróleo e aliados (Opep+), cujo ingresso foi aprovado pelo Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) na terça-feira (18), como um avanço diplomático, fortalecendo a posição do Brasil nas discussões sobre produção e preços do petróleo, outros questionavam se há vantagens econômicas concretas em participar do grupo.

O ingresso na organização aconteceu. Contudo, cabe ressaltar que o Brasil entrará apenas em “instância de diálogo” da Opep, conforme esclareceu o Ministério de Minas e Energia. A entrada do Brasil nesse grupo não prevê sua participação em decisões que visem cortes de produção de petróleo, destacou a pasta.

A Genial Investimentos aponta que o impacto de uma adesão efetiva ao grupo mesmo dependeria diretamente do destino da exploração na Margem Equatorial, área localizada no Norte do Brasil, entre os estados do Amapá e Rio Grande do Norte. Segundo os analistas, o país está em pleno crescimento da produção, principalmente por conta do pré-sal, e essa tendência pode continuar se houver avanços na exploração de novas áreas.

Recentemente, a Guiana anunciou a descoberta de 15 bilhões de barris de petróleo equivalente em suas águas, um número que supera as reservas provadas do Brasil, que, em 2020, totalizavam 11,9 bilhões de barris. Na opinião dos analistas, caso a Margem Equatorial se mostrar promissora, o Brasil poderá evitar um declínio na produção e garantir que os volumes extraídos permaneçam em alta.

Com isso, segundo a corretora, surgem duas possibilidades sobre o futuro da política externa do Brasil em relação à Opep: se a Margem Equatorial se consolidar como uma fonte viável de petróleo, seria mais estratégico para o Brasil ficar fora da Opep. Isso porque, como regra, o grupo estabelece cotas de produção para os seus membros, o que poderia limitar a expansão da Petrobras (PETR4) e reduzir a liberdade do país em aumentar sua oferta conforme interesses próprios.

Ou seja, fora da Opep, os analistas dizem que o Brasil poderia se livrar das limitações impostas pelas cotas e, ao mesmo tempo, aproveitar a alta nos preços de petróleo ditada pela organização. Com as reservas da Margem Equatorial em jogo, o Brasil poderia explorar suas riquezas de maneira mais flexível, sem se preocupar com os controles de produção e os compromissos de ajuste de oferta.

Especialistas avaliam que o Brasil dificilmente adotaria cotas de produção. O Bradesco BBI, por exemplo, diz que essa decisão seria apenas estratégica em termos de política externa, sem alterar a dinâmica da produção nacional.

Por outro lado, caso a Margem Equatorial não se prove uma alternativa viável e a produção brasileira entre em um processo de declínio, a aderência à Opep poderia ser vantajosa. Nesse contexto, fazer parte da organização seria uma maneira de maximizar o valor das reservas restantes, já que a Opep influencia os preços globais e, ao adotar uma política de corte de produção, poderia garantir que as últimas extrações do Brasil fossem mais rentáveis.

O relatório também destaca que, historicamente, países que ficaram fora da Opep tiveram fortes ganhos. Enquanto os membros do grupo restringiram a produção para sustentar preços elevados, países como os Estados Unidos, o Canadá e o próprio Brasil aumentaram a oferta e se beneficiaram dos altos valores do barril. A Petrobras, por exemplo, expandiu sua produção com o pré-sal e conseguiu capturar preços elevados sem precisar seguir as diretrizes do cartel.

Outro ponto a ser considerado são os efeitos sobre o mercado interno. A participação ativa do Brasil em um bloco que busca manter os preços do petróleo elevados pode ter consequências diretas no valor dos combustíveis, segundo a Genial. Em um país onde o custo da gasolina e do diesel tem impacto direto na inflação e no debate político, essa decisão pode gerar resistências, conforme o relatório. Além disso, setores como transporte e refino podem sofrer com oscilações de preços atreladas às estratégias da Opep.

A Opep foi criada em 1960 com o objetivo de coordenar a produção de petróleo entre os países membros e, consequentemente, influenciar os preços. Atualmente, a organização conta com 14 integrantes, enquanto a Opep+ agrega outros países produtores que não têm direito a voto nem obrigatoriedade de seguir cotas de produção. O Brasil, caso entre para o grupo, poderá ter um papel mais próximo da formulação de políticas da commodity, mas isso pode implicar restrições futuras à expansão da sua produção.

Além da Opep, a aprovação do CNPE também inclui a entrada na Agência Internacional de Energia (IEA) e na Agência Internacional de Energias Renováveis (Irena). O governo argumenta que a participação nessas entidades amplia a influência global do país no setor energético.

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